Lula acelera Reforma Ministerial para reafirmar alianças com líderes partidários
Atualizado em 05 de fevereiro de 2025 às 1:30 pm
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Nesse terceiro mandato do presidente Lula, as aparições do chefe do executivo vinham sendo menos frequentes; ele geralmente era representado por seus ministros de confiança. Os contatos diretos do presidente com a imprensa foram esporádicos, realizando algumas poucas entrevistas e coletivas em viagens ao exterior.
Diferente do que estava sendo realizado pela antiga equipe de comunicação, com Sidônio Palmeira agora no comando da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o presidente Lula convocou uma entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (dia 30). Após as recentes crises causadas pela comunicação sobre a taxação do Pix e pela inflação alta, que está elevando o preço dos alimentos, a queda de popularidade demandou uma aparição para amenizar a imagem negativa do atual governo.
A nova equipe de comunicação entende que Lula precisa aparecer mais para ocupar o noticiário e se opor aos ataques e notícias falsas. Durante a entrevista, Lula evitou responder diretamente se fará uma reforma ministerial. Contudo, não descartou a possibilidade, caso os responsáveis pelas áreas estejam com desempenho abaixo do esperado.
Desde o início de seu mandato, o presidente Lula já trocou sete ministros: Gonçalves Dias foi substituído pelo general Marcos Amaro dos Santos como ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Daniela Carneiro saiu do Ministério do Turismo, dando lugar para o deputado federal Celso Sabino (União-PA); Ana Moser deixou o Ministério dos Esportes para o deputado federal André Fufuca (PP-MA); Márcio França, foi para Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, deixando o Ministério de Portos e Aeroportos para o deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos-PE); Flavio Dino deixou o Ministério da Justiça para ocupar vaga junto ao STF, vindo a ser substituído por Ricardo Lewandowski; e Silvio Almeida foi substituído pela deputada estadual Macaé Evaristo (PT-MG) no Ministério dos Direitos Humanos.
Com as alterações feitas na primeira metade do seu mandato, ficou claro que o presidente Lula precisou agradar ao Centrão para aumentar o seu apoio no Congresso Nacional. Por isso nomeou deputados federais de bases aliadas para comandarem pastas relevantes. Entretanto, os principais problemas seguiram entre a Secom e o Ministério da Fazenda.
A saída de Paulo Pimenta do comando da Secretaria de Comunicação Social (Secom), marcou a sétima troca feita pelo presidente Lula na equipe ministerial. Lula admitiu as falhas e criticou a comunicação anterior, prometendo fazer as “correções necessárias” com a pasta sob gestão de Sidônio. O ponto principal de cobrança foi a organização na área para divulgar as entregas da gestão, equívoco que desestabilizou o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por algumas vezes nesse tempo de governo.
Fernando Haddad segue no comando da Fazenda, mas com uma fragilidade evidente e bastante criticado, principalmente, entre os grandes líderes.
Em evento fechado na cidade de São Paulo, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que Haddad é um “ministro fraco”, que “não consegue se impor” e tem “dificuldade de comandar”. Para ele, um ministro da Fazenda sem autoridade, é um “péssimo indicativo para o País”.
Na mesma oportunidade, Kassab avaliou que se a eleição presidencial fosse hoje, Lula não seria reeleito, pois não está tendo “articulação para reverter a piora no cenário” e avisou que “os partidos de centro estão criando uma alternativa para 2026”. Logo em seguida, Marcos Pereira, presidente do Republicanos, em entrevista concedida, concordou que o governo estaria sem rumo e sem direção, deixando clara a falta de entrosamento interno.
Essas declarações revelam um mau diagnóstico para Lula e Haddad: a aliança governista está pouco sólida e a fragilidade do ministro da Fazenda está exposta.
Os partidos PSD e Republicanos são, até então, considerados da base governista, sendo responsáveis pela indicação de quatro ministérios. Contudo, tanto Kassab quanto Pereira colocaram em xeque um apoio à reeleição de Lula em 2026.
A esperança do presidente Lula seria realizar uma reforma ministerial para selar as alianças para 2026. Lula deve oferecer ao PSD, partido de Kassab, ministérios importantes. Entretanto, se Kassab abrir mão da troca de favores, a reforma ministerial perderá o sentido e o PSD pode assumir o protagonismo nas próximas eleições, bancando o nome de Tarcísio de Freitas – atual governador de São Paulo – como candidato.
As críticas de grandes nomes (até então aliados) ao presidente e ao ministro da Fazenda, animaram o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi avaliado que as declarações podem indicar novos rumos e um cenário mais favorável para a aproximação de Kassab com os partidos de direita, principalmente o PL. Contudo, ainda há cautela, sabendo que se deve aguardar a reforma ministerial de Lula para saber a direção que o PSD pretende tomar.
O presidente Lula, após as declarações direcionadas, defendeu o seu ministro, Fernando Haddad, afirmando que ele foi protagonista em importantes projetos, como a recém-anunciada nova versão do crédito consignado; no entanto, a perspectiva de melhora no cenário econômico brasileiro é baixa. O atual governo é disfuncional e, desde o desastre do anúncio do pacote de corte de gastos, ficou claro que o Ministro da Fazenda não deve conseguir se impor para conter o ímpeto arrecadatório da gestão do presidente Lula (PT).
A presença de um ministro da Fazenda confiável, forte e respeitado pelos grandes líderes pode fazer a diferença. Contudo, o Partido Social Democrata deve ser o fiel da balança nas eleições presidenciais de 2026. A sigla foi a que mais elegeu prefeitos no Brasil em 2024 e, desde que foi criado, em 2011, esteve presente em todas as presidências, passando pelas gestões de Dilma, Michel Temer e Jair Bolsonaro com cargos importantes. É inegável a influência e a transversalidade do partido.
AGF Advice Consultoria Legislativa e Relações Governamentais